O consumo consciente se apóia em algumas atitudes por parte dos consumidores como a valorização de empresas que se mostram socialmente responsáveis, se preocupam com o impacto da produção gerado ao meio ambiente, buscam o melhor custo-benefício considerando qualidade e atitude social, conscientizam outros consumidores para a prática do consumo consciente entre outros.
No que diz respeito à exploração animal, temos observado uma crescente preocupação da sociedade perante as empresas e até mesmo ao governo. Na Europa, por exemplo, foi aprovada a proibição dos testes em animais na indústria de cosméticos com vigor efetivo previsto para março de 2009. Essa atitude força as grandes empresas a criarem métodos alternativos para a validação e teste dos seus produtos, inclusive de outros países que pretendem exportar seus produtos à União Européia. A grande empresa de cosméticos L’Oréal investiu milhões em alternativas aos testes em animais incluindo a aquisição das empresas Episkin e SkinEthic, especializadas em testes alternativos.
O fato é que a maioria dos consumidores ainda não se informam ou não se interessam pelo assunto. Muitos não imaginam o que está por trás da inscrição “dermatologicamente testado” presente nas embalagens de diversos produtos.
A ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, é o órgão nacional que coordena, fiscaliza e regulamenta o ingresso de produtos, passando pelos alimentícios e produtos de limpeza, no mercado. Para isso a ANVISA, vinculada ao Ministério da Saúde, determina a realização de diversos testes para a verificação de efeitos de substâncias químicas presentes nos produtos, como também a composição dos produtos de acordo com o exposto nas embalagens.
Na área dos cosméticos, por exemplo, são obrigados testes como o de comedogenicidade, avaliação do potencial de irritação ocular, dérmica, potencial fototóxico, DL-50 oral, irritabilidade da mucosa oral e genital, carcinogenicidade, teratogenicidade e teste LLNA.
Testes:
O DL-50 oral tem por finalidade verificar a toxicidade do produto através de ingestão oral forçada por meio de entubação gástrica. Se baseia na contabilidade do percentual de animais que são mortos de acordo com faixas de doses, além da observação de sinais e sintomas como ambulação, piloereção (eriçamento involuntário dos pelos) entre outros. É de praxe o alcance de 50% de óbito, que dá o nome ao teste: Dose Letal – 50.
O teste de comedogenicidade é feito pela aplicação de amostras diluídas que são aplicadas durante três semanas, com 5 aplicações cada, na parte interna da orelha do animal para a verificação de eritema, edema e presença ou ausência de comedões.
O teste de irritação dérmica consiste na aplicação única do produto no dorso de coelhos durante um período e procede-se a graduação das lesões de acordo com a escala de Draize. No caso do teste para irritação cumulativa as aplicações se estendem por 10 dias consecutivos.
A irritação ocular é medida durante 7 dias depois de única aplicação do produto no saco conjuntival de coelhos, que são imobilizados.
A sensibilização dérmica é constatada através da aplicação da menor dose não irritante durante 3 semanas. Após essa fase aplica-se a maior dose não irritante seguido de aplicações, no caso de ensaios de sensibilização dérmica maximizada, subcutâneas de adjuvante completo de Freund (inclui microbactérias inativas que servem para aumentar a inflamação nos pontos de injeção, resultando em lesões dolorosas no local de injeção) para confirmar a imunidade.
Irritação da mucosa oral se dá através da aplicação na bolsa bucal, com lavagem subseqüente, durante um período. No final do teste os animais são sacrificados para exames.
Fotoalergenicidade é o teste feito pela aplicação do produto, repetidamente, em duas áreas do mesmo flanco dos animais expondo-se à radiação UVA e UVB em seguida. Após são feitas aplicações sem exposição à radiação, em outra área, para que sejam comparados os resultados.
Fototoxicidade é semelhante ao teste anterior.
Irritação da mucosa genital é testada com aplicação do produto sobre a mucosa peniana ou vaginal para a observação das alterações dos tecidos.
Durante esses testes e de acordo com a própria ANVISA o uso de anestésicos nem sempre é recomendado, como podemos constatar em parte do texto retirado de publicação da Agência: “Todas as regras básicas de bioterismo e manipulação de animais devem, obrigatoriamente, ser observadas. Embora pareça paradoxal, o uso de anestésicos nem sempre é recomendado, pois pode interferir com a resposta animal. Porém, parâmetros para a finalização humanitária de experimentos, onde os animais demonstram sinais de angústia e desconforto, devem ser observados.” [Guia para avaliação de segurança de produtos cosméticos – Brasília 2003 - ANVISA].
Mas esses testes não são suficientes para a liberação dos produtos, uma vez que devem ser testados posteriormente em humanos por conterem atributos relacionados à segurança. Então, quando vemos inscrições nas embalagens como “dermatologicamente testado”, “oftalmologicamente testado”, “clinicamente testado” etc, significa que o produto foi testado em humanos com acompanhamento de médico especialista. Isso significa que de qualquer forma os testes em humanos devem ser feitos por segurança.
Aliado aos problemas da utilização de animais em testes, temos também a exploração do meio ambiente que é feita de forma irresponsável por diversas empresas e que está diretamente relacionada ao bem-estar animal, visto que os impactos ambientais atingem diretamente a fauna.
Por isso é importante verificar junto às empresas se elas possuem programas de conservação ambiental, se poluem o meio ambiente despejando lixo sem tratamento, se a matéria prima utilizada é produto de áreas reflorestadas e se investem em educação ambiental. Há, hoje em dia, selos de qualidade de produção de produtos orgânicos que visam a observação de consciência ambiental, econômica e social das empresas. Foram lançados recentemente no Brasil os Selos Vegano e Vegano Orgânico da SVB, Sociedade Vegetariana Brasileira, que são atribuídos, respectivamente, a produtos sem componentes de origem animal e a produtos sem origem animal e em conformidade com os regulamentos orgânicos.
Informações podem ser obtidas através de sites de proteção animal, como o PEA, Projeto Esperança Animal, AILA, Aliança Internacional do Animal e Instituto Nina Rosa, que mantêm listas de empresas que fazem testes em animais bem como de empresas que não realizam tais testes.
É importante também verificar nos sites das empresas se estas possuem algum programa ambiental ou informar-se através de e-mail ou telefone do SAC, Serviço de Atendimento ao Consumidor, disponível nas embalagens dos produtos.
Através dessa conscientização e da crescente preocupação dos consumidores as empresas vão aos poucos se adequando e se propondo a fazer parte dessa nova realidade. E quanto aos testes em animais fica ainda a dúvida de como a ANVISA requer a realização dos testes das empresas enquanto outras têm a liberação dos produtos sem efetuar tais testes e sem perda de qualidade. Por isso diga NÃO aos testes em animais.